16/02/2015

Texto | O Mistério dos três irmãos - Capítulo quatro

Edgard

            Os cavalos do estábulo estavam inquietos quando Edgard levantou as calças. Ainda estava meio úmido das intimidades da criada da família. O jovem ajeitou os cabelos enquanto a mulher o olhava furtivamente entre o feno como se ansiasse por uma segunda dose de prazer.
            – Devo me apressar para o jantar, Ernesta, querida – disse o filho do meio do Sr. Jones. – Papai não tolera atrasos... Oh, não, por favor, não me olhe dessa maneira. Nós não temos tempo para fazer outra vez.  
            – Não quer mais um pouco disso? Ernesta abriu as pernas sutilmente revelando suas intimidades para Edgard.
            Edgard riu e enfiou a camisa.
            – Os homens da capital nunca me resistiram – reclamou Ernesta. – Talvez eu esteja perdendo o meu toque.
            – Os homens da capital não são um Jones – Edgard disse beijando-a novamente vestindo um sorriso contagiante. Ele deixou uma moeda para a criada e se dirigiu para fora do Estábulo. Ajeitou melhor a roupa quando viu Margaret benzer a mureta da casa. A governanta não podia nem sonhar o que estava acontecendo no Estábulo.
            Edgard evitou a porta de entrada e resolveu ir para o quarto usando uma das portas laterais da propriedade. Sua vida era repleta de regras e costumes que ele não seguia, porém, mesmo assim, não podia mostrar a ninguém quem ele realmente era. E os que sabiam de suas atividades simplesmente não podiam acusá-lo. Seu nome “Jones” o livraria de qualquer advertência ou calúnia de uma pessoa com menos prestígio.
            Enquanto subia as escadas apressado, Edgard pensou na mulher da floresta. Ela era diferente de tudo o que ele já tinha visto em toda a sua vida. Nem mesmo Ernesta, que sempre dizia ter vindo da Capital, era como ela. Ele precisava encontrá-la outra vez. Porém ele tinha o receio de que isso seria muito difícil de acontecer de novo. Já fazia quase um mês e a mulher não aparecera mais; se quer deu as caras em parte alguma da cidade. Mas Edgard tentaria mais uma vez.
            Em seu quarto, na ala sul da grande mansão, Edgard descobriu o lençol do quadro que tinha feito da mulher da floresta. A pintura adornava uma sala sombria, porém luxuosa. O quarto de Edgard era decorado com móveis de madeira e cortinas vermelhas, o que na opinião de Margaret, era a cor usada por muitas prostitutas e adoradoras do Diabo.
            Ele olhou o rosto ruborizado no espelho do canto e achou melhor lavar o rosto, que ainda denunciava sua pequena diversão proibida com Ernesta. Então, após enxugar a face molhada, seus olhos encararam mais uma vez o olhar penetrante da pintura. O melhor trabalho da sua vida, pois ele conseguira retratar perfeitamente o mistério que o afligira ao admirar aquela mulher da floresta. E ao fazê-lo, de repente, Edgard fora acometido pela lembrança de quase um mês atrás.

Floresta, quatro semanas antes.
            Fábian, Edgard e Isack aventuravam-se no bosque. O sol estava começando a se por e Fábian riscava alguns fósforos para tentar acender a tocha. Seu pai havia se ausentado da cidade para resolver assuntos particulares e os três resolveram fugir de Margaret para se banhar no rio.
            Eles agiam como três cúmplices quando se tratava de burlar as leis da governanta. Mesmo que Isack e Edgard se mostrassem um tanto desobedientes para com o irmão mais velho, ainda sim os três possuíam uma amizade profunda. O Sr. Jones sempre dizia que a família era um pilar muito importante da sociedade. E que a deles somente herdou todo o respeito e influência na cidade por causa da união, sempre presente, em seu meio. Os três irmãos entendiam isso.
            – Consegui acender – Fábian falou enquanto a luz da tocha iluminava o corpo de Edgard. Ele colocou a tocha em um buraco que cavou no chão e sentou ao lado do irmão. Isack, o mais novo, ainda nadava feliz no lago.
            – Quando eu tinha a idade dele eu também não pensava em outra coisa – dizia Edgard. – Eu só queria nadar e nadar, o mais tempo que eu conseguisse.
            Fábian virou-se para o irmão e comentou:
            – Como se você fosse muito mais velho do que ele.
            – Digamos que eu já tenho outras prioridades – Edgard disse em um sorriso travesso.
            – Do que você está falando? – Fábian olhou-o desconfiado.
            Edgard levantou-se e foi procurar suas roupas que estavam emboladas juntamente com a dos seus irmãos. Fábian o acompanhou e tocou em suas costas.
            – Você não continua com aquela história da empregada, não é? Sabe que ela não é...
            – Você parece a Margaret falando, sabia? – Edgard desvencilhou-se do irmão. O jovem pegou suas calças e virou-se para encarar Fábian. – Deveria usá-lo, sabia? – Ele apontou para a nudez do irmão. – Ernesta realmente sabe como fazer um homem se sentir...
            – Chega! – Fábian cortou-o. – Vista-se, Edgard. Nós vamos embora. – Isack, venha! Já é hora de voltar.
            Isack saiu do lago sem entender o motivo da saída repentina e veio andando em direção aos irmãos.
            – Eu não entendo você, Fábian – Edgard dobrava as mangas de seu blusão. – Você é o primogênito, o que levará o nome da família por onde quer que vá. Seu aniversário se aproxima e você não quer nem mesmo aproveitar isso.
            Fábian começou a se vestir também.
            – Sei muito bem quem sou, o que devo e o que não devo, meu irmão. E agora já chega. Isack está vindo e não quero que ele ouça esse tipo de conversa.
            – Eu vou dar uma volta – disse Edgard precipitando-se para dentro da floresta.
            Isack chegou e suas roupas já estavam na mão do irmão mais velho enquanto ele perguntava o motivo de irem embora tão cedo.
            – Edgard, a floresta é perigosa durante a noite, você sabe muito bem disso. Além do mais, já estamos indo.
            – Eu sei o caminho de volta... – a voz de Edgard perdeu-se no meio da mata.
            Ele andou rápido pela floresta para despistar os dois irmãos antes que Fábian resolvesse ir atrás dele. A luz da tocha ia ficando para trás e Edgard movia-se em direção a montanha que circundava a floresta antiga. Margaret sempre os alertara de que aquele lugar era perigoso, porém Edgard jamais acreditou em suas supertições. Além do mais, o perigo era um risco que ele correria com prazer em troca de sua liberdade. Afinal, Edgard nunca gostou das leis que o cercavam.
            O filho do meio do senhor Jones aproximou-se do pé da montanha e olhou para trás. Ele se encontrou sozinho no meio do mato e o único barulho que se ouvia era o zumbir de insetos misturado com as folhas secas quebrando-se aos seus pés. Ele olhou para o céu e o mesmo encontrava-se limpo e cheio de estrelas. Resolveu andar mais um pouco e avistou uma luz do outro lado da montanha. Conforme foi se aproximando também percebeu que uma fumaça com cheiro de alguma coisa assando perfumava o derredor.
            Edgard não conseguia imaginar do que se tratava, mas provavelmente deveriam ser caçadores das redondezas assando um porco do mato ou um coelho. Ele andou mais um pouco em direção ao lugar e ouviu som de tambores. Com certeza não eram caçadores. Mas a sua curiosidade o dominou e o fez se aproximar mais.
            Esgueirando-se por detrás de uma árvore ele viu pessoas. Todas eram mulheres. E todas estavam nuas. Aquilo fez Edgard estremecer um pouco. Eram lindas, jovens e com os corpos estruturais. Estavam de mãos dadas em volta de uma grande fogueira formando um círculo.
            Edgard observou aquilo com total atenção. As mulheres o estavam provocando um calor tremendo, mesmo com as roupas úmidas do lago. Ele sentiu uma pequena ereção quando todas elas começavam a balançar os seus corpos em uma espécie de dança. Então ele viu outra pessoa sair de dentro de uma cabana improvisada. Não conseguiu ver quem era, pois estava completamente coberta por um roupão vermelho com capuz.
            As mulheres que tocavam os tambores pararam e fez-se silêncio no local. Edgard não ousou se mexer, para evitar que as folhas secas se quebrassem em seus pés e denunciassem sua posição. Observou tudo de detrás da árvore enquanto as mulheres desenhavam um círculo aberto com a posição que assumiam, agora ao lado da fogueira. A pessoa vestida de vermelho andou até o círculo e entrou no meio das outras, que se ajoelharam imediatamente. Elas fecharam o círculo em volta da nova integrante e Edgard prendeu a respiração quando avistou o que havia por debaixo daquele roupão quando a mulher o retirou.
            Ela era simplesmente a mulher mais linda que Edgard já havia visto em toda a sua vida. Ela também estava nua e seus seios adornados com tinta vermelha. Os cabelos estavam soltos e eram cumpridos até a cintura, e o rosto parecia ser o mesmo de Afrodite, a deusa mitológica da beleza.
            Ela levantou uma das mãos para o céu e com a outra colocou o dedo indicador na frente do lábio, como um gesto de silêncio. Então pronunciou com uma linda voz:
            – Que a mãe terra, a mãe lua e as deusas da floresta recebam o nosso sacrifício.
            Naquele momento Edgard não conseguiu tirar os olhos da mulher, nem ao menos para ver o que algumas outras correram para pegar. Somente quando ele escutou os gritos, seus olhos se moveram.
            Era um homem. Estava amarado e amordaçado, porém, mesmo assim, os seus gritos conseguiram ultrapassar a fronha lhe tapava a boca. Ele estava em cima de uma espécie de carrinho preso a uma estaca de madeira. Mesmo com as cordas, também podia se notar que estava nu. Edgard não o conhecia, deveria ser alguém de outra cidade. Atrás dele, outras mulheres vinham trazendo alguns animais assados.
            Um temor terrível passou pela espinha de Edgard. Elas iriam sacrificar aquele homem? Então elas começaram a pronunciar:
            – Que o nosso poder cresça e o nosso círculo prospere. Agradecemos pela nova estação!
            Ao repetirem isso algumas vezes, uma das mulheres que trouxeram o homem, apresentou um punhal vermelho a mais linda de todas, que Edgard concluíra ser a líder. Ela aproximou-se do homem e Edgard não quis mais ver o que fariam. De repente ele desatou-se a correr na direção contrária daquele lugar. Infelizmente o estardalhaço produzido pelo seu desespero quase o fizeram cair, mas ele ouviu as vozes se afastarem e o barulho dos tambores recomeçaram.
            Ele afastou-se o máximo que pode e outra luz o iluminou na floresta. Edgard estava lívido quando se virou e viu seus irmãos, agora completamente vestidos e prontos para voltarem para casa.
            – Onde você foi? – perguntou Fábian, carrancudo.
            Edgard não conseguiu responder, mas não atreveu-se a dizer o que presenciara. Apenas passou o braço por entre o ombro do seu irmão mais velho e disse:
            – Vamos sair daqui.

            Ao retornar do súbito que tinha lhe dado, Edgard deu mais uma olhada no quadro e prometeu a si mesmo que procuraria aquela mulher de novo. Só que deva vez, não deixaria que o medo lhe ferisse a razão. Ele estava disposto a tudo para vê-la novamente.
            Logo então, cobriu o quadro novamente, ajeitou os cabelos cortados, e desceu para encontrar sua família no jantar; tendo em mente que quando a refeição acabasse ele voltaria à floresta naquela noite.

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