A família Jones morava distante da cidade grande. Todos os três irmãos foram criados debaixo de um regime de autoritarismo imposto pelo pai. A lei era a única coisa que importava e ela era dividida em três itens:Fábian
1° Obediência
2° Sigilo
3° Controle
É claro que a lei também era composta por milhares de
outros tópicos que nasceram na mente do Sr. Jones para poder controlar os seus
filhos. Eles eram conhecidos como os garotos perfeitos, jamais se metiam em
confusão, jamais eram vistos tarde da noite na rua e ninguém nunca tinha nada
para falar daqueles garotos.
Fábian Jones era o filho mais velho do Sr. Jones; ele
fora designado pelo pai a assumir a responsabilidade pelos dois mais novos Edgard
e Isack, cujos maiores defeitos eram não obedecer às ordens de Fábian.
O ano era o de 1950, e a fazenda era totalmente isolada
do mundo do lado de fora, nem energia elétrica existia naquele lugar.
Havia noites em que a lua se recusava a aparecer formando
sombras tão intensas que se Fábian quisesse, ele quase podia senti-las. O vento
soprava nas paredes da enorme casa, que ficava a quase trinta quilômetros da
única estrada da região, sussurrando coisas ininteligíveis e assustadoras sobre
o mundo lá fora. Seu pai costumava dizer que eles tinham sorte por não conhecerem
o que o mundo tinha a oferecer, que aquele estilo de vida era o correto e que
jamais deviam se desviar dele.
Aos redores da grande residência dos Jones, havia outras
casas igualmente pacatas que abrigavam pessoas arredias e medrosas. Ninguém era
muito amigo de ninguém. Aquele lugar era movido por interesses dos principais
homens das famílias que se dedicavam em espalhar mitos e o terror para o povo.
Uma noite Fábian havia tido permissão para acompanhar o
seu pai em uma ida até um bar que ficava a uns bons trezentos metros da grande
fazenda onde eles moravam. O Sr. Jones costumava dizer que um homem só se
tornava homem de verdade depois que tomava a sua primeira cerveijada. E como
aquele dia o jovem Fábian fazia dezoito anos, finalmente chegara a sua vez de
mostrar a todos que ele era um verdadeiro Jones.
Os
dois, pai e filho, chegaram ao bar e sentaram em uma mesa de madeira com
cadeiras um pouco rachadas e desconfortáveis também de madeira.
O Sr. Jones tinha um bigode espesso que lhe cobria metade
da boca não muito carnuda. Seu nariz torto fungava por cima do bigode e os
olhos frios e negros olhavam para o rosto do seu filho mais velho. Fábian era
bonito e jovem. Seus cabelos eram grandes e estavam presos por uma fita. Não
havia pelos no seu rosto ainda, mas alguns pelos já começavam a nascer no seu
peito, o que era um orgulho. Por isso ele fazia questão de andar com metade de
sua blusa de botões aberta, para que todos pudessem ver.
A atendente chegou perto dos rapazes e os olhava com um
olhar em aprovação. Fábian reparou que ela era bonita, porém muito mais velha
do que ele. Usava um vestido colado ao corpo e estava pintada com batom e
sombras nos olhos.
– Posso ser útil aos cavalheiros? – perguntou a
atendente.
Fábian olhou-a de cima em baixo e sorriu.
– Duas cervejas, por favor – pediu o Sr. Jones sem tirar
os olhos do filho.
A garçonete afastou-se e foi em direção ao balcão encher
duas canecas em um barril que ficava em cima da estrutura de madeira. Fábian
reparou em como os seus quadris balançavam enquanto ela andava e ele gostava
daquilo. Nunca tinha tido contato com o sexo feminino daquela maneira. Somente
com a governanta da casa, a senhorita Margaret. Uma velha ranzinza que fora
deixada de herança juntamente com a habitação deixada pelo seu avô.
– Seja discreto – advertiu o Sr. Jones ao filho quando o
mesmo não conseguia tirar os olhos da garçonete. – Não há somente nós nesse bar,
filho.
Fábian endireitou-se a mesa e procurou afastar os
pensamentos tortuosos que invadiam a sua mente naquele momento. Mas afinal, ele
estava se tornando um homem. Já era hora de deixar toda aquela coisa fluir. Ele
olhou para os lados e avistou homens bebendo e fumando em mesas separadas.
Nenhum parecia estar acompanhado de parentes, de forma que ele chegou à
conclusão que a maioria estava ali traindo as suas esposas com as “garçonetes” que
se prestavam a serviços extras.
A garçonete voltou com um sorriso discreto no rosto e
serviu a cerveja aos dois. Fábian mais uma vez não resistiu o impulso de
olhá-la. Mas dessa vez seus olhos pousaram estranhamente em uma veia que
pulsava no pescoço da mulher.
– Beba – seu pai indicou a caneca na mesa.
O líquido estava fresco e espumoso. Parecia bastante
apetitoso com toda a sede que Fábian estava sentindo. Ele empurrou a cerveja
para dentro tão rapidamente que o copo ficou vazio na primeira golada.
– E então, como se sente? – perguntou o Sr. Jones.
Fábian sentiu que por mais que o líquido fosse gelado,
ele esquentou sua garganta levemente o fazendo corar.
– Eu quero mais – pediu o garoto.
– Vá um pouco mais devagar dessa vez – sugeriu o seu pai.
– Não queremos nos embebedar logo de cara. Ele estendeu a mão e chamou
novamente a garçonete.
A mulher se aproximou igualmente e pegou a caneca vazia
de Fábian. Logo depois ela voltava trazendo-a cheia de cerveja outra vez.
Quando ela pousou a caneca na mesa, Fábian viu que ela fizera de propósito uma
manobra de forma que o decote do seu vestido caísse um pouco e seus seios
ficassem quase a mostra. Então ela levantou-se novamente e endireitou-se dando
as costas para o rapaz.
– Bonita a garçonete, não? – perguntou o Sr. Jones ao
filho.
Fábian assentiu com a cabeça e seus olhos azuis se
perderam no corpo da garçonete. A respiração dele se intensificou um pouco e
ele não conseguiu esconder a sua excitação.
– Eu posso tê-la esta noite, meu pai? – perguntou o
garoto.
Sr. Jones coçou o bigode e fixou os olhos em seu filho.
Fábian sabia que o seu pai o estava estudando. Como se tudo aquilo fosse um
teste.
– Mas é claro, meu filho. Que tipo de pai seria eu se
fosse negar a você um presente como esse no seu décimo oitavo aniversário?
Fábian sorriu e bebeu um novo gole de sua cerveja. Como
de costume na cidade, o aniversário de dezoito anos de um homem era comemorado
com tudo aquilo que o garoto quisesse fazer. Naquele dia, nada era proibido,
nada era pecado. Exceto...
– Olá Jones – cumprimentou um velho senhor de cabelos
brancos e barba. – A noticia corre pela cidade, ham? – o velho deu palmadinhas
no ombro do jovem Fábian e sorriu com os dentes cariados a mostra. O velho
cheirava a álcool e tinha uma barriga grande de chope.
Sr. Jones levantou-se do seu lugar e apertou as mãos do
velho.
– Ah, senhor Trevino, é um prazer que tenha se lembrado
do aniversário do meu primogênito. O senhor sabe como é, não é?
– Eu também já fiz dezoito anos, meu jovem. Falou o
velho. – Acredite, quando eu tinha a sua idade me diverti a baldes nesse dia.
Aproveite. Afinal não são todos os dias que se completam dezoito anos.
Fábian assentiu e continuou bebendo em sua cadeira.
O senhor Trevino saiu do bar e foi em direção à rua
escura da cidadezinha. Vendo aquilo, Fábian pensou nas histórias que o seu pai
contava. Não fosse a cidade ser rodeada de histórias sobrenaturais e lendas que
costumavam tirar o sono de criancinhas durante a noite, aquela era uma noite de
lua cheia. E a lua cheia trazia maus presságios.
– Antes de a noite acabar, ela será sua. Falou o senhor
Jones olhando para a garçonete enquanto ela servia as outras pessoas no bar.
Fábian começou ficar um pouco tonto com a bebida. Ele
sabia que não estava mais sóbrio quando tentou se levantar e sentiu as suas
pernas o obedecerem como se estivessem em câmera lenta.
Ele foi em direção ao banheiro da birosca e sentia o seu
corpo arder um pouco. Seria aquele efeito de quase cinco copos de cerveja
quando nunca se tinha tomado um porre antes? Ele urinou no banheiro que
cheirava a esgoto e começou a ouvir a voz de todos que estavam dentro do bar.
Como se a maioria das vozes tivesse aumentado um décimo de altura dentro de sua
cabeça.
– Pai? Ele chamou quando ouviu alguém entrar no banheiro
também.
O homem apenas esperou sentado em uma pequena pia
enquanto Fábian abotoava as calças e tentava se virar para ver quem era.
– Quem está ai? Perguntou o garoto para o vulto coberto
de preto.
Ninguém respondeu. A visão de Fábian estava turva por
causa de toda aquela bebida. Seria possível que ele estivesse tendo
alucinações? Ele esfregou os olhos e voltou à visão para o mesmo lugar. Porém
nem mesmo resquícios de que o vulto estivera mesmo ali ele encontrou.
O garoto saiu do banheiro e voltou para a mesa junto de
seu pai. Porém o Sr. Jones não estava mais lá. O lugar estava vazio e a mesa já
estava limpa.
– Ei? Ele chamou a garçonete. – Onde é que está o meu
pai?
– Está aqui senhor. Falou a garçonete chamando o jovem
Fábian para uma porta que ficava nos fundos do bar. – É só o senhor me
acompanhar.
O garoto lembrou-se da promessa de seu pai e imaginou o
que lhe aguardava dentro daquele quarto. O rosto da garçonete confirmou as suas
suspeitas quando ele chegou mais perto e a mesma o olhava com certa malícia.
A mulher puxou uma
pequena cortina que separava o quarto do bar e Fábian se viu em um pequeno
vestíbulo com uma cama e muitas almofadas cor de carmim. Também havia uma
poltrona com apoio para os pés que foi onde ele se sentou a princípio. A
tontura da cerveja começava a ficar um pouco mais forte, mas era aliviada por
uma gostosa massagem que a garçonete começou a fazer em seus ombros.
– Isso. Ele conseguiu sussurrar de olhos fechados
enquanto as mãos da mulher deslizavam por entre os seus ombros. Porém não eram
somente as mãos da mulher que o garoto sentia. A mulher estava bem perto dele.
Os seus seios encostavam-se às costas de Fábian juntamente com suas mãos
enquanto faziam movimentos leves e relaxantes.
Fábian sentiu a mulher lhe abrir a blusa, botão por
botão. Ele imaginou o quanto ela deveria ter ficado surpresa com sua definição
e peitos cabeludos. Sentiu-se orgulhoso quando ouviu o suspiro da mulher.
Tentou abrir os olhos para vê-la, mas era melhor mantê-los fechados. Tudo
estava rodando.
Um cheiro doce invadiu as suas narinas quando a mulher
andou para frente dele e começou a beijar o seu pescoço. Ele sentiu vontade de
chegar mais perto daquele cheiro, quase como se aquilo estivesse dizendo a ele
que o experimentasse. Então a mulher afastou-se de perto do seu nariz descendo
lentamente com a língua por todo o seu peito nu.
Fábian estava completamente acometido pelo prazer. Porém
aquele cheiro novamente o incomodou. Ele tentou abrir os olhos novamente, mas
não conseguiu mantê-los por muito tempo. Ele percebeu que o cheiro agora vinha
de todo o corpo da garçonete. Não só de seu pescoço onde ele havia visto aquela
veia pulsando fortemente bombeando litros de sangue, mas de toda a parte.
A mulher desceu mais um pouco o tocando em suas partes íntimas,
porém ele segurou a sua mão para beijá-la. Foi aí então que tudo aconteceu.
Uma dor cortante acometeu todos os seus dentes o fazendo
ter que segurar a própria boca. Ele sentiu os seus caninos pontiagudos de forma
a cortarem a sua própria língua ao passarem por eles.
– O senhor está bem? Perguntou a mulher. Fábian sentiu os
seus dedos tocarem a sua face então a dor amenizou. Somente ela, somente aquele
toque tinha o poder de fazer tudo acabar. E ele vinha acompanhado daquele
cheiro delicioso e doce que emanava por entre os poros dela. Quase como uma
droga que viciava em apenas uma tragada.
– Agora estou. Respondeu o garoto enquanto beijava as
mãos da garçonete. Ela sorriu e se aproximou mais de Fábian sentando no seu
colo. O cheiro lhe invadia como água da chuva sobre uma superfície esburacada.
Ela tentou o beijar na boca, mas Fábian não lhe deu
espaço. Ele estava mais interessado nas mãos da mulher. Especialmente em seu
pulso onde ele quase podia ouvir o barulho do seu coração batendo e de seu
sangue espalhando-se por todo o seu corpo.
Então estar perto do corpo da mulher passou a não ser
mais a única necessidade de Fábian. Ele precisava de mais. Algo quase como um
fome tomou conta dele. De repente o topôr causado pela cerveja já não mais o
afetava e ele conseguiu enxergar perfeitamente tudo o que estava acontecendo. A
visão lhe chegou por partes, mas em escalas separadas onde veias pulsavam sobre
a pele e ele quase podia sentir o gosto do sangue quente em sua boca. Ele
sentiu seus olhos lhe revelando exatamente onde morder. “Morder” Ele pensou
novamente. O que lhe estava acontecendo? Mas a próxima visão o fez esquecer e
pensar somente no gosto que aquilo lhe proporcionaria.
De repente ele estava com os lábios no pescoço da mulher
enquanto ela se entregava quase que loucamente para ele. Ele perfurou a pele
devagar com os dentes que se revelaram através de sua boca e pela primeira vez
ele sentiu o gosto do sangue. Era bom, quente e acobreado. Quase como ferrugem,
mas com um tom adocicado que provocava um frenesi total nele. A cada pulsada do
coração da garçonete, ele agradecia abrindo mais a boca e deixando o sangue
espirar em sua língua.
Depois de alguns segundos ele sentiu o corpo da mulher
amolecer e seu coração vacilar um pouco. Mas ele não podia parar diante de toda
aquela vontade. Era quase como pedir a um leão faminto que deixe de comer a sua
presa. O fluxo sanguíneo tornou-se menor e menos quente, vindo de dentro da
mulher. Até que a única coisa que lhe restou foi um corpo pálido e sem vida em
seus braços.
O jovem Fábian levantou-se da cadeira deixando o corpo da
garçonete cair no chão fazendo um baque surdo. Ela estava mole, seus olhos
fechados e uma marca manchava a pele branca de seu pescoço, bem perto de sua
garganta.
De repente o monstro que Fábian havia se tornado invadiu
a sua mente. Ele podia sentir a vida da mulher correr também em suas veias e o
gosto da sua última refeição ainda adoçava os seus lábios. Ele lambeu a ponta dos
mesmos e caiu em si. Ele precisava sair dali antes que alguém o descobrisse.
Ele abotoou a sua blusa e passou as mãos no cabelo. Não
tinha feito muita sujeira, por isso ele tinha certeza que ninguém desconfiaria
de nada. O garoto colocou o corpo sem vida da mulher em cima da cama e o cobriu
com alguns lençóis. Um pequeno espelho jazia em cima da mesa e quando Fábian
passou por ele nada ele viu. Seria algum tipo de ilusão de ótica? Ele passou a
ponta dos lençóis em sua boca para limpar os vestígios do que tinha acontecido
e saiu do local.
O bar estava com alguns fregueses ainda. Alguns o
olharam, outros nem se deram a sua saída do vestíbulo. Provavelmente aquilo
deveria acontecer muitas vezes por noite. E os que lhe espreitaram a saída,
deviam estar apenas a esperar pela sua vez de se divertir com a garçonete. Mas
eles não teriam a mesma sorte, a mulher estava morta.
– Meu senhor. Cumprimentou outra atendente morena e
vestida quase que da mesma forma que a outra garçonete.
Fábian sentiu que a vontade de beijá-la e sentir o gosto
do seu sangue o preencheu. Por um breve momento ele quase se deixou levar
convidando-a a ter com ele no outro vestíbulo atrás do balcão, mas ele
precisava ser inteligente. Precisava sair dali antes que dessem por falta de
uma das atendentes. Então ele saiu pela porta da birosca deixando a lua cheia
banhar a sua face e dizer-lhe maus presságios. Nada mais importava, ele havia
se tornado um homem. Ou quase isso.
Fábian acordou no dia seguinte com seu irmão Isack lhe
balançando freneticamente.
– Acorde Fábian. Acorde.
A ausência de luz não fez os seus olhos doerem. As
cortinas do seu quarto estavam fechadas e sua cama parecia confortavelmente
mais atraente do que a voz do seu irmão.
– O que você quer? Ele perguntou ao seu irmão.
– O bar em que você estava ontem a noite foi queimado
esta manhã. Falou Isack. – Margaret disse que foi por causa da lua cheia.
– Não ouça as histórias de Margaret. Falou Fábian. – Sabe
como ela gosta de te assustar.
Ele levantou-se da cama e sentou a sua beirada. Sua
cabeça doía e ele percebia que já era noite quando ele se levantou.
– Que horas são? Ele perguntou ao irmão.
– Já estamos na décima sétima hora do dia de hoje,
Fábian. Você dormiu o dia inteiro. Papai disse que foi por causa da bebedeira
de ontem à noite. O olhar de seu irmão Isack era sonhador. Talvez estivesse
pensando em como seria quando chegasse a sua vez de se tornar um homem.
Então tudo o que Fabian havia feito noite passada lhe
voltou à memória. Ele lembrou-se da prostituta, das canecas de cerveja e
principalmente do sangue que ele havia experimentado. Ele se assustou um pouco.
Será que o tinham descoberto?
Ele vestiu-se e começou a perguntar seu irmão sobre o que
acontecera com o bar.
– Margaret disse que foi tudo obra de bruxaria. Disse que
uma mulher morreu ontem à noite. Ela disse que foi um demônio da lua cheia.
– Eu não quero saber das supertições de Margaret, Isack.
O que papai falou de tudo isso? Ele está em casa?
– Eu não sei. Falou Isack. – Estou de castigo. Margaret
não me deixa sair do quarto. Ela cisma que eu tenho que comer todo o mingau que
ela faz, mas aquilo não é mingau. Parece estrume de
porco.
Fábian balançou a cabeça, um pouco preocupado e desceu as
escadas de madeira para o andar de baixo. Felizmente não encontrou ninguém em
seu caminho. Quando chegou a enorme sala de estar, encontrou seu outro irmão Edgard
ajudando Margaret a acender a lareira.
– Edgard? Chamou Fábian.
Seu irmão o olhou em aprovação e sorriu. Edgard não
gostava do estilo de todos os rapazes da cidade de deixar os cabelos grandes, o
garoto insistia para que o aparassem a cada dois meses. Hoje excepcionalmente
parecia um dia que ele havia o feito.
– E então, ainda está extasiado de ontem à noite? Edgard
sorria para o irmão mais velho. O garoto tinha um pedaço de ferro nas mãos que
eles usavam para mexer no fogo.
Margaret crispou os lábios em um bico enrugado quando
ouviu os irmãos conversarem sobre as concupiscências da noite passada. Fábian
sabia que sua governanta viera de uma época em que tudo aquilo era considerado
pecado e punível com castigos.
– Não estou aqui para ouvir sobre as suas safadezas,
senhor Fábian. Disse Margaret. – Se me deem licença, preciso preparar o seu
banho. A velhota se retirou deixando cheiro de alho no ar. Fábian imaginou que
aquilo era original de seus cabelos brancos que viviam presos em um coque.
– Não ligue para ela. Disse Edgard. – Só está abalada com
a tragédia que aconteceu a uma das garçonetes. Ele aproximou-se de Fábian com
um sorriso excitado. – Conte-me como foi a sua primeira noite como homem de
verdade. Pediu o irmão.
Fábian sorriu, mas ficou um pouco sem graça em dizer-lhe
o que realmente aconteceu. Seria prudente ele contar ao seu irmão que o
assassino da prostituta era ele? Que ele havia sugado todo o sangue do corpo da
mulher?
– Onde está o papai? Ele perguntou. – Preciso ver o papai
antes de lhe falar.
Edgard balançou a cabeça mostrando-se insatisfeito.
– Papai saiu em uma cavalgada noturna pela floresta. Ele
quer caçar javalis. Disse que hoje à noite o jantar será especial.
Fábian levantou-se e foi em direção
a grande janela que ficava no canto oeste da ampla sala de estar. A luz da lua
invadia a casa e os cachorros latiam do lado de fora. Aquele era o segundo dia
de lua cheia e Fábian só tinha certeza de uma coisa. Ele estava faminto. Mas
não por comida. Por sangue.
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